Memorias de um pobre diabo
Memorias de um pobre diabo
Book Excerpt
Era de facto assaz. Puz-me a pensar.
--No que pensas? tornou ella.
--Na cousa mais simples deste mundo.
--Qual?
--N'um chapéo...
--Por fallares em chapéo, de quem será um, que anda pelo sotão?
--Poderá ser meu... anda vêr...
A rapariga não se deixou rogar. Lesta foi, lesta voltou.
--É justamente meu, clamei, antes de pôr o chapéo na cabeça.
O chapéo era tanto meu como de quem me ouve. Ficava-me na cabeça por muito obsequio.
--Acautela-te, acudio Aurora, olha que elle quer subir...
--Aurora, lhe disse com seriedade, toma um beijo... é tudo quanto posso dar-te, como lembrança de minha gratidão...
Ao proferir a palavra gratidão--cresceu-me o nó da garganta.
--Não me deves nada, meu querido, respondeu a meia voz. Eu sinto muito mas... tu sabes...
--Sei... tens razão... adeus.
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